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“Eu convido e desafio qualquer deficiente a comparecer ao IFB e fazer o mesmo que eu: capacitar-se”

Criado: Quarta, 24 de Fevereiro de 2016, 12h59 | Publicado: Quarta, 24 de Fevereiro de 2016, 12h59 | Última atualização em Quarta, 24 de Fevereiro de 2016, 13h22 | Acessos: 7175

Wallace cortando cebolasDesossar um frango, realizar os cortes clássicos da Gastronomia e manusear panelas com água e óleo quentes – esses são alguns dos desafios enfrentados por qualquer profissional quando resolve iniciar a carreira na cozinha. E foram esses, e muitos outros, os desafios vencidos por Wallace Paschoal. Com uma diferença: ele não enxerga.

Wallace teve deslocamento de retina e perdeu completamente a visão há 12 anos. Hoje, aos 60 anos de idade, mesmo cego, o estudante acaba de concluir o curso técnico em Cozinha no Campus Riacho Fundo do Instituto Federal de Brasília (IFB).

Durante um ano e meio do curso, ele aprendeu todas as técnicas e fundamentos de um profissional da área de Gastronomia. Wallace conta que, no início, ele sentia que os colegas ficavam com medo por ele e queriam fazer as coisas em seu lugar. Mas ele era firme e não deixava, pois tinha de aprender.

“Hoje, aprendi coisas novas que achava que não tinha capacidade para fazer, como desossar coxa, peito e até um frango inteiro, sem cortar a pele. Faço tudo na cozinha e com segurança”, fala, orgulhoso.

O segredo, segundo Wallace, é utilizar os outros sentidos, como audição e tato. “A faca e os legumes, eu vou tateando até iniciar os trabalhos. Já para saber se a água está secando ou acertar o ponto da carne, uso a audição. E também tenho outras técnicas, como enfiar o garfo e dar uma rodadinha no frango; se estiver soltando, é porque ele já está assado”, explica.

 

Novos caminhos

Wallace concluiu o curso Técnico em Cozinha no final do ano passado. A cerimônia de formatura acontecerá no dia 1.º de abril. Mas, mesmo antes de segurar o seu certificado, o estudante já partiu para outro desafio. Foi selecionado e está cursando o Técnico em Panificação, na mesma unidade do IFB.

“Na panificação, imagino que a principal dificuldade será a confeitaria. Como é que vai ser? Não sei. Vai ser um desafio, e grande, mas vamos vencer”, espera o estudante, que conta, ainda, quais são seus planos para o futuro.

“Às vezes penso em fazer uma pequena fábrica de pães em casa mesmo, uma produção pequena para vender para os vizinhos, mas se surgir oportunidade no mercado de trabalho, a gente encara”.

 Wallace com suas professoras

Aprendizagem mútua

Para o Campus Riacho Fundo também foi um aprendizado receber Wallace, pois ele foi o primeiro deficiente visual matriculado na unidade. Depois de sua chegada, o campus adquiriu uma Impressora em Braille, para repassar as atividades e textos para o aluno. No início, também lhe foram oferecidas aulas individuais para que o estudante pudesse conhecer bem a cozinha e a disposição de todos os utensílios e ambientar-se com o local.

“O fato é que o Wallace tem ótima memória, sua concentração é mais profunda e sua capacidade de aprendizagem foi excelente. Isso tudo atribuo à deficiência. Percebi também que a Gastronomia é uma ótima forma para desenvolver a autonomia, as habilidades e sentidos remanescentes”, relata a professora Maíra Cardoso.

A pedagoga Marcela Magalhães fala que a experiência com o estudante trouxe aprendizado também para o campus e para os profissionais da unidade.

“O principal ensinamento que o Wallace nos trouxe é que somos seres diferentes e cada um aprende de uma forma e em seu tempo, independentemente de ter alguma necessidade específica ou não. O grande desafio do educador é descobrir a forma e o tempo em que cada aluno aprende, e assim foi com o Wallace”, avalia.

A história exitosa do aluno já ultrapassou as fronteiras do Distrito Federal. Em maio do ano passado, o relato da experiência de Wallace foi apresentado no Fórum Mundial de Educação Profissional Tecnológica, em Recife. E, em dezembro, colegas de aula retrataram a rotina do estudante no campus, na curta-metragem “Acende a luz que tá escuro”, que foi apresentado no 1º Festival de filmes do IFB.

Wallace credita ao IFB a responsabilidade por uma nova fase em sua vida, bem mais produtiva, e convoca outras pessoas com necessidades específicas a estudarem na instituição. “Eu convido e desafio qualquer deficiente a comparecer ao IFB e fazer o mesmo que eu estou fazendo: capacitar-se”, finaliza Wallace.

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