Com método de estudos próprio, Ana Paula é exemplo e constrói história no IFB

“Oferecem um salário para pessoas que têm necessidades específicas ficar em casa, e para receber, não podem trabalhar, nem estudar. Eu não aceitei. Eu prefiro trabalhar e estudar, pois eu sou capaz disso e dinheiro nenhum faz eu ficar em casa, pois o prazer que eu tenho na vida é trabalhar e estudar”.

As palavras acima são da estudante do curso superior de Tecnologia em Gestão Pública do Campus Brasília do IFB, Ana Paula Rodrigues da Silva. A fala da jovem de 29 anos retrata o tema deste ano – Inclusão se conquista com autonomia – da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, que está sendo comemorada de 21 a 28 de agosto.

Ana Paula, que possui funcionamento intelectual comprometido, é figura conhecida nos corredores do Campus Brasília, graças a sua simpatia e sorriso fácil. Sua história com o Instituto Federal de Brasília teve início em 2010, quando foi selecionada para ingressar no curso técnico em Serviços Públicos.

No mesmo ano, pôde pôr em prática o conhecimento adquirido nas aulas, quando foi selecionada para uma vaga de estágio na coordenação de Gestão de Pessoas do próprio campus. Ao término do contrato do estágio, passou em uma seleção para atuar como bolsista no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), também no IFB.

Em 2013, Ana Paula formou-se no curso técnico e não parou por aí. Fez o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e sua mãe a inscreveu no Sistema Único de Seleção (SiSU), no curso de Gestão Pública.

“Fiz o ENEM, minha mãe me inscreveu e eu nem sabia. Eu soube quando fui chamada. Eu havia decidido não fazer, porque eu não acreditava que a minha nota daria para passar. Eu achava que eu era incapaz de fazer um curso superior”, conta.  

Hoje, a história mudou. Apesar das dificuldades, Ana Paula continua firme e empolgada no curso. Ela é representante da sua turma, já atuou como monitora da disciplina de Ciência Política, está participando do processo seletivo para monitoria da disciplina de Direito e Gestão de Projetos, e já planeja a pós-graduação.   “O próximo passo será fazer a pós-graduação em Gestão Escolar”, projeta.

Método de estudo

Grande parte do sucesso da Ana Paula se deve ao método de estudos que ela desenvolveu. “A minha principal dificuldade é gravar o que o professor fala e, para isso, eu gravo as aulas, no celular, para escutar depois”, explica.

Para ajudar na memorização, ao invés do tradicional caderno, ela faz suas anotações em fichas e folhas amarelas, sempre utilizando canetas coloridas. “Meu modo de estudar é muito trabalhoso, pois, além de fazer o fichamento, quando eu chego em casa, escuto a aula novamente e anoto os pontos principais”.

E foi justamente o método de estudos que levou Ana Paula para um novo caminho. Desde o ano passado, a estudante também passou a proferir palestras, contando sobre sua vida, sua história, dificuldades e método de estudos. Há três semestres, ela participa de uma disciplina eletiva da Universidade de Brasília (UnB), apresentando as dificuldades enfrentadas e orientando os estudantes da universidade a como trabalhar com alunos com deficiência.

Dificuldades que, ela afirma, não encontra no IFB. “Aqui no IFB eu encontrei apoio dos professores; eles ajudam muito, mas não dão mole. Eles preparam material do modo que eu entenda. No final da aula, sempre perguntam se eu entendi e passam muitas atividades”.

O futuro? Além de se especializar em Gestão Escolar, Ana Paula quer continuar dando palestras e pretende ir além. “Além disso, meu sonho é ter um blog e escrever um livro”. Alguém duvida?