Carta à comunidade do Campus Ceilândia
"Estamos todos impactados pelos últimos acontecimentos relacionados à pandemia de COVID-19. E a sensação de desamparo logo se alastra, como a pergunta que não quer calar: e agora?
Pensando sobre isso, proponho uma reflexão que pode nos auxiliar a situar os últimos acontecimentos, sob a perspectiva de que estamos atravessando um período de crise. Talvez auxilie se pensarmos, com Lacan, nas categorias daquilo a que chama de tempo lógico.
O tempo, quando tomado pela perspectiva lógica, pode ser analisado da seguinte forma. Existe um instante de ver – esse momento inicial, de forte impacto, para o qual não temos nenhuma hipótese ou explicação prévia. Sim, nos deparamos com uma pandemia cuja principal medida de proteção é o distanciamento social. A partir disso, além do impacto do medo de adoecer, precisamos lidar - de uma hora para a outra – com a suspensão de nossos afazeres e contatos com amigos e familiares queridos. É um instante de ruptura, para o qual não estávamos preparados!
E esse instante se transforma, pelo correr do tempo cronológico, no tempo para compreender – momento em que se tenta elaborar o que está em jogo, momento em que as informações (relevantes e na justa medida, claro!) oferecem muitos elementos para tentarmos nos organizar diante do impacto sofrido. É um momento propício para a análise da situação, para teorizações, para posicionamentos, enfim, para criações de possíveis manejos do contexto que se apresentou. E isso durará até que se possa alcançar o momento de concluir, que poderá ou não coincidir com o fim cronológico da crise e das medidas de contenção, a depender da forma com que cada um pôde atravessar a situação que se impôs.
Neste sentido, é muito importante que não se tente “resolver”, de forma precipitada, aquilo que ainda não se findou. É necessário aceitar que estamos em plena travessia...e temos tempo suficiente para isso!
Por fim, gostaria de lembrá-los de que o distanciamento físico não implica distanciamento emocional. Que neste tempo para compreender possamos nos aproximar uns dos outros, ainda mais do que vínhamos fazendo antes da ruptura.
Um abraço acolhedor a todos!
Raquel Ghetti, psicóloga do Campus Ceilândia
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