Alunas fazem documentário sobre a precarização do trabalho informal
Em um cenário em que 39 milhões de trabalhadores atuam na informalidade sem direitos trabalhistas reconhecidos, alunas do curso Técnico em Segurança do Trabalho do IFB Campus Ceilândia resolveram abordar o tema por meio de um documentário.
O projeto, desenvolvido ao longo de dois anos na disciplina "Projeto Integrador" e orientado pelo professor Aristóteles de Almeida, teve como foco motoboys e motogirls que trabalham com aplicativos e vivenciam o trabalho informal em situações de vulnerabilidade.
Motoboys — Motogirls
Com a pandemia e a necessidade de fechamento do comércio para a prevenção à Covid-19, os serviços de delivery tornaram-se uma opção para as pessoas que perderam ou tiveram a renda reduzida, aumentando o número de entregadores por aplicativos (trabalhadores informais).
Com isso, o número de mulheres na profissão também aumentou. O número de mulheres habilitadas a pilotar motocicletas cresceu 95,7% entre 2011 e 2020, segundo informações do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
Em uma profissão majoritariamente masculina, o documentário ainda traz relatos de discriminação e assédio, não só por parte dos motoboys, como também dos comerciantes e clientes.
Entre as vantagens da profissão, os trabalhadores listam a jornada de trabalho flexível, que facilita conciliar os horários com outras atividades. Isso também se torna uma desvantagem, na medida em que se recebe proporcionalmente à quantidade de entregas que faz, sem a garantia de uma renda fixa. Maria Carolina, motogirl informal e uma das entrevistadas no documentário, diz que chega a trabalhar de 10 a 12 horas por dia, podendo aumentar ainda mais a carga horária aos finais de semana.
Riscos e precarização
No Brasil, 55% dos acidentes de trânsito envolvem motocicletas. Uma em cada três vítimas de batidas em vias de tráfego estava em motos. Esses dados são da pesquisa Cenário da Mortalidade de Motociclistas no Brasil, realizada em 2019 pelo Observatório Nacional de Segurança Viária.
No caso dos entregadores por aplicativos, as empresas que oferecem seguro contra acidentes são as mesmas que impõem tempo estimado para entrega, rota rastreada e sistema de punições.
O documentário, além de trazer pontos da precarização do trabalho informal, entrevistas e análises sobre o assunto, ainda deixa clara a importância do Técnico em Segurança do Trabalho como um dos principais responsáveis por estabelecer uma cultura de segurança.
“Durante as entrevistas, elas ouviram casos de trabalhadores que sofreram algum tipo de acidente e estavam completamente desassistidos. Outro ponto que notei, é que elas, enquanto jovens que logo irão ingressar no mercado de trabalho, perceberam o quanto a falta de proteção legal do trabalho afeta não só o presente mas também o futuro com a ausência de direitos, como a aposentadoria. Além disso, as estudantes-pesquisadoras manifestaram interesse de que esses trabalhos sejam protegidos pela legislação trabalhista, pois somente nessa modalidade é que a profissão delas pode atuar. Isso significa que a própria informalidade tira postos de trabalho de técnicos de segurança do trabalho.” afirma o professor orientador do projeto, Aristóteles de Almeida.
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