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Parceria do IFSC-IFB resgata construção de parede de taipa

Criado: Quarta, 04 de Dezembro de 2024, 17h20 | Publicado: Quarta, 04 de Dezembro de 2024, 17h20 | Última atualização em Quarta, 04 de Dezembro de 2024, 17h20 | Acessos: 132

A equipe de pesquisadores do Câmpus São Carlos do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) que trabalha com a técnica construtiva da taipa de pilão presenteou o Campus Planaltina do Instituto Federal de Brasília (IFB) com a primeira taipa “multi-IF”, protótipo de uma parede de terra construído a partir da colaboração dos visitantes do estande do IFSC na Semana Nacional da Educação Profissional e Tecnológica (SNEPT), realizada entre 26 e 28 de novembro.

Com 80 centímetros de altura, 60 quilos e mais de 20 camadas de terra compactada, o protótipo que agora pertence ao IFB Campus Planaltina só pôde ser construído em função da parceria articulada entre os pesquisadores do IFSC e do IFB, encurtando simbolicamente uma distância de quase 1.800 quilômetros. Enquanto os pesquisadores do Sul levaram o conhecimento a compartilhar e os materiais mais leves necessários à construção da amostra de parede, um grupo de servidores e estudantes do Câmpus Planaltina providenciou a preciosa matéria-prima que é, também, a alma das edificações em taipa de pilão: o solo. Assim, surgiu a primeira amostra de taipa de pilão construída com terra do Cerrado brasileiro, com participação das mãos de representantes de diversos institutos federais que visitavam a Semana.

Desafio

A equipe de São Carlos participou do estande do IFSC na SNEPT ao lado de outros oito projetos da instituição. O coordenador da pesquisa, professor Anderson Renato Vobornik Wolenski, conta que a ideia de levar o projeto para um evento nacional foi vista como uma grande oportunidade para o grupo, mas desde o início surgiu a preocupação com a obtenção da quantidade razoável de solo, com características específicas, necessária para as atividades no estande.

Em contato com o IFB Campus Planaltina do IFB, Anderson foi encaminhado para o técnico Frederico Lopes da Silva, coordenador de Produção Animal e Vegetal do câmpus. Ele mobilizou os estudantes Eduardo Almeida dos Santos e Danilo Gomes de Jesus, do quinto semestre do curso de Agronomia, para a coleta e preparação do solo. “Os alunos colheram aproximadamente 30 quilos de três tipos diferentes de solo, que selecionamos levando em consideração a presença de mais areia – solos arenosos – e com menos concentração de argila, de acordo com o que o professor Anderson nos solicitou”, relata Frederico. “E foi fácil encontrar, porque o Cerrado e a vasta área do câmpus nos permite acessar diferentes perfis de solo”, salienta. As amostras passaram por procedimento de secagem e depois foram peneiradas.

Construção coletiva

No estande, os pesquisadores do IFSC apresentaram a técnica e convidaram os visitantes a, literalmente, pôr a mão na massa, preparando as porções com misturas de solo, cimento, areia e umidade, que eram depois apiloadas, camada por camada, no molde de madeira. A apresentação seguiu a metodologia já adotada pelo grupo nas edições de Joinville (2023) e de São Miguel do Oeste (2024) do Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Sepei) – que também resultaram em paredes de taipa que estão em exposição nos câmpus São Carlos e São Miguel do Oeste.

Um dos visitantes foi o engenheiro agrônomo Raphael Maia Aveiro Cessa, professor do Câmpus Planaltina e também protagonista na parceria IFSC-IFB. “Não conhecia essa técnica e fiquei impressionado”, conta. Na troca com a equipe do IFSC, ele contribuiu com ideias em torno da composição e características dos solos, área na qual tem expertise. Ao lado do técnico Frederico, o professor está conduzindo o processo de acabamento da taipa “multi-IF”: a estrutura está recebendo a aplicação de resina hidrofugante, material que impede a infiltração de água e mantém, ao mesmo tempo, a respirabilidade. Quando estiver pronta, a taipa resultado da parceria entre IFSC São Carlos e IFB Planaltina ficará em exposição no prédio da Agronomia.

Experiência

A participação na SNEPT foi uma experiência nova e enriquecedora para o estudante Luiz Fernando Trentin, 18 anos, que está no terceiro ano do curso técnico integrado em Edificações no Câmpus São Carlos e é bolsista voluntário do projeto. “Conseguir visualizar o impacto dessa pesquisa nos alunos e servidores que visitaram nosso estande foi de suma importância para entender os estigmas presentes hoje na construção civil. Em um primeiro momento conseguimos visualizar uma certa desconfiança por parte dos ouvintes, até o ponto em que mostramos o desenvolvimento da nossa casa em taipa de pilão no nosso câmpus, que foi o ponto chave para que o pessoal entendesse o funcionamento da técnica”, relata Luiz Fernando. Na sua percepção, a experiência com a produção da parede durante o evento também criou uma sensibilidade diferente nos visitantes. “Quando sentiram a parede desenformada e ouviram as explicações, eles tiveram a noção de como essa prática construtiva pode contribuir para um futuro mais sustentável”, analisa.

Além de compartilhar os conhecimentos que vem ajudando a construir com as pesquisas em torno da taipa de pilão, Luiz Fernando avalia que a participação na SNEPT foi uma oportunidade valiosa para sua formação. “Tive a oportunidade de conhecer e interagir com diversos projetos de todo o Brasil, podendo visualizar o potencial científico presente no país”, define.

O que é taipa de pilão

Na origem, a taipa de pilão é um sistema construtivo milenar que remonta ao antigo Egito, onde há edificações de mais de 2 mil anos construídas dessa forma. Ela consiste na estruturação de paredes por meio da compactação/apiloamento de camadas de terra em formas de madeira. Há pouco mais de três anos, os pesquisadores do Câmpus São Carlos vêm pesquisando e aprimorando a técnica, que é uma alternativa sustentável a outros tipos de materiais não-renováveis hoje dominantes na construção civil, como o concreto. Por isso, é definida como “bioconstrução”.

Casa-laboratório em taipa de pilão

Até o final do semestre, os pesquisadores do Câmpus São Carlos devem concluir a construção da casa-laboratório em taipa de pilão. As paredes estão sendo erguidas desde agosto em mutirões de voluntários, sempre aos sábados - das nove projetadas, sete já estão prontas e as demais serão construídas nos próximos dias 9 e 18 de dezembro.

Fazendo jus ao conceito de bioconstrução, a edificação será coberta com uma estrutura de bambu. As novas questões de pesquisa a partir da conclusão da casa-laboratório sustentável terão foco no conforto térmico e acústico da estrutra em condições próximas de uma edificação real. “Uma coisa é avaliar uma parede isolada, e outra é avaliar a casa como um todo. Nós vamos usar equipamentos que vão mensurar o quanto a temperatura e a umidade vão variar ao longo de um ano. E a outra verificação é acústica: vamos observar o quanto as paredes de taipa de pilão, nessa casa especificamente, conseguem isolar o som em comparação com uma casa convencional”, detalha o professor Anderson.

 

Fonte: Ana Paula Lückman | Jornalista do IFSC

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