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Curso profissionalizante para pessoas não alfabetizadas vira pesquisa de mestrado no IFB

Criado: Sexta, 25 de Novembro de 2016, 15h49 | Publicado: Sexta, 25 de Novembro de 2016, 15h49 | Última atualização em Sexta, 25 de Novembro de 2016, 16h01 | Acessos: 3121

“Eu pego ônibus pra qualquer lugar, não tenho dificuldade mais. Também aonde eu vou, vejo uma placa. Isso é muito bom pra mim.”

Estas frases foram ditas por uma estudante do curso de “Alfabetização e Letramento: emancipação feminina pela construção da cidadania”. A ideia de que é necessário ter educação formal para acessar cursos profissionalizantes foi rompida no Campus Taguatinga Centro quando a instituição implantou a formação profissional para mulheres que não eram alfabetizadas.

O curso teve início em março de 2014, sob coordenação da assistente social Clarice Vieira. No entanto, a história de sua implementação se iniciou em 2012, quando a coordenação do Programa Mulheres Mil do Campus Taguatinga organizou uma turma de Alfabetização e Letramento, associada aos cursos de Empreendedorismo e Técnicas de Secretariado.

Em 2016 o assunto virou tema de uma pesquisa realizada pela servidora no Instituto Politécnico de Santarém (IPS) em Portugal. O trabalho foi realizado no mestrado profissional em Educação Social e Intervenção Comunitária e apontou que a alfabetização, aliada a orientações para a cidadania e para o mundo do trabalho, são condições suficientes para mudar a vida das estudantes.

Alfabetização e orientação para o mundo do trabalho

O curso, objeto da pesquisa da servidora do IFB, foi criado para alfabetizar e ajudar as mulheres a se colocarem no mundo do trabalho seja conseguindo empregos com carteira assinada ou encontrando outras fontes de renda.

A alfabetização por si só já é uma vantagem para se conseguir emprego. Uma das estudantes entrevistadas por Clarice, durante a pesquisa, deixa isso claro. Ela afirma: “assim, o estudo né, que a gente tem que ter em primeiro lugar, saber ler, escrever, pra você ver, às vezes você vai trabalhar de limpeza, você precisa de pegar um produto e você não sabe ler que produto é, entendeu?” (sic)

Situações simples do dia a dia de uma diarista ou de uma auxiliar de serviços gerais não podem ser executadas por pessoas que não conseguem ler e escrever. Junto à escrita e à leitura, o Instituto Federal de Brasília (IFB) oferece orientações que vão desde dicas de saúde e higiene pessoal até informações sobre como abrir uma conta no banco para receber seu salário e como usar um computador em questões básicas como enviar e ler e-mails ou trocar mensagens via celular ou mesmo - simplesmente - usar o celular.

Como a pesquisa foi realizada

Para realizar a pesquisa, a servidora utilizou a metodologia “História de Vida”, em que as estudantes foram ouvidas relatando suas experiências. O trabalho, apesar de não ser uma reportagem jornalística ou literatura romanceada, é capaz de emocionar quem o lê.

As histórias das mulheres analfabetas que chegam ao IFB em busca de novos rumos para suas vidas trazem cenas de tristeza, violência, opressão, tragédias, mas também de superação e, principalmente, de esperança.

Clarice passou horas conversando com as estudantes do instituto, ouvindo suas histórias e as mudanças que ocorreram ou ainda estão ocorrendo em suas vidas a partir do momento que retornaram para a sala de aula.

A dissertação completa pode ser lida aqui

Resultados e Sugestões

A pesquisa apontou que os cursos oferecidos para mulheres não alfabetizadas contribuem para melhorar a qualidade de vida das estudantes, assim como é capaz de colocá-las no mundo do trabalho. Dessa forma, os cursos de alfabetização ofertados com conteúdos voltados especificamente para o trabalho, podem ser considerados como cursos profissionalizantes.

Outro resultado que a alfabetização apontou foi a mudança no relacionamento dessas mulheres com o sistema de educação formal. Grande parte das alunas, após se profissionalizarem no IFB, optou por reingressar na escola e segue estudando ou faz planos para voltar a estudar.

A pesquisadora, entretanto, apontou também problemas com o projeto e deu sugestões de melhoria. Uma das dificuldades foi o fato de o atendimento às mulheres ter se iniciado com o Programa Mulheres Mil, depois ter mudado para o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego) e por fim, sem recursos ou apoio do Ministério da Educação, ter sido completamente assumido pelo Campus Taguatinga Centro.

Nessa última fase, em que a unidade local assumiu todas as responsabilidades pelo projeto, ocorreram falhas que não puderam ser superadas pela falta de recursos locais. Um dos exemplos citados pela pesquisadora foi o transporte que, antes era garantido com um ônibus do IFB buscando e levando as mulheres na Cidade Estrutural. Sem o Programa Mulheres Mil, suspenso pelo Governo Federal, esse apoio deixou de existir.

Entretanto, mesmo sem os recursos de um Programa Federal como o Mulheres Mil, o IFB conseguiu, por exemplo, manter as bolsas de auxílio permanência do Programa de Assistência Estudantil. Dessa forma, as estudantes têm recebido apoio financeiro que contribui com sua permanência na Instituição.

A pesquisadora

Toda pesquisa científica é movida por algum interesse. As pesquisas realizadas nos Institutos Federais devem levar em consideração as necessidades das comunidades onde atuam, precisam servir para resolver algum problema que envolva a comunidade ligada ao Instituto.

No caso do trabalho realizado pela assistente social do Campus Taguatinga Centro, a experiência da pesquisadora foi ao encontro das necessidades da comunidade de mulheres atendidas por essa unidade do IFB.

Clarice, que é graduada em Serviço Social pela Universidade Brasília (UnB), tem trabalhado com mulheres em situação de vulnerabilidade desde a graduação. Ela atuou como estagiária no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) onde realizava escuta qualificada junto às mulheres vítimas de violência.

Também atuou no Setor de Perícias Psicossociais (SETPS) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), onde realizava estudos psicossociais e emissão de pareceres técnicos em processos judiciais que envolviam mulheres vítimas de violência doméstica.

No IFB, assumiu a coordenação do Programa Mulheres Mil em 2013, no Campus Taguatinga Centro. Após a integração dos cursos do Programa Mulheres Mil ao Pronatec, desenvolveu o projeto de extensão em parceria com outras colegas do Campus Taguatinga Centro em prol da alfabetização de mulheres em situação de vulnerabilidade social, ou seja, mulheres sem laços ou redes sociais para acessar uns dos principais alicerces da dignidade humana: ler e escrever.

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