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Algumas palavras...sobre o luto

Criado: Terça, 19 de Mai de 2020, 14h38 | Publicado: Terça, 19 de Mai de 2020, 14h38 | Última atualização em Terça, 21 de Julho de 2020, 13h04 | Acessos: 1492

O atual cenário imposto pela pandemia da Covid-19 - com todos os impactos que gerou em nossa sociedade – parece ter colocado muitos de nós diante da vivência de vários lutos ao mesmo tempo: luto pelos projetos que foram interrompidos com o necessário isolamento social, pela rotina de vida que cada um tinha, pela interrupção das aulas, pela contaminação de pessoas próximas, pelo cenário mundial desolador de muitas mortes, pela perda de estabilidade financeira etc. É como se estivéssemos passando por um processo de enlutamento coletivo.

Mas afinal, o que é o luto?

É um fenômeno psicológico bastante presente em nossa história, muito mais do que imaginamos. Aparece não apenas diante do falecimento de uma pessoa querida, mas sempre que há ruptura daquilo que nos dava a sensação de estabilidade na vida. Divórcio, mudança de cidade, afastamentos de pessoas queridas, planos não realizados, surgimento de doenças, desemprego, não aprovação no vestibular são exemplos de situações aparentemente corriqueiras que desencadeiam em nós o processo de luto. Portanto, mais do que normal, ele é esperado e necessário para a manutenção da saúde mental: só quando se permite sentir a tristeza pela perda ocorrida é que se terá condições para reconstrução de novas possibilidades para a vida.

De uma forma geral, segundo Kubler-Ross, é possível que se compreenda o processo de luto por fases. A primeira, a negação, é uma fase em que se tem dificuldade de aceitar o que aconteceu e pensamentos como “não é comigo!” ou “isso é bobeira” estão presentes. O segundo estágio, o da revolta, é o momento em que as sensações de injustiça e o sentimento de raiva diante do ocorrido afloram. O terceiro momento, de negociação, acontece quando a pessoa realiza promessas e acordos, na tentativa ilusória de reaver aquilo que foi perdido. Na quarta fase, a pessoa vivencia de forma intensa a tristeza pelo ocorrido, até que chega na quinta fase, a da aceitação, em que restam as boas lembranças diante daquilo que se viveu e se perdeu. Apesar disso, é muito singular a forma como cada um vivencia os inúmeros lutos ao longo de sua vida, podendo ter a predominância de uma ou outra fase, a depender do fato ocorrido e da história de vida de quem o vivenciou.

Então, sentir saudade das pessoas afastadas pelo distanciamento social, desejar que a vida volte logo ao que era antes da pandemia, ter a sensação de que as perdas ocasionadas pela Covid-19 não são verdade, chorar, ficar triste, ter raiva, são reações consideradas esperadas: afinal, a sociedade está passando por um processo de luto, coletivamente, e a forma como cada um vivencia isso, individualmente, é singular. Algumas pessoas vivenciam o luto em uma intensidade maior e, outras, em uma intensidade menor. Porém, o que faz de fato diferença para a vivência saudável de um luto é aceitá-lo, para que possa haver, após a dolorosa sensação da perda, a superação. E superar não é fingir que não aconteceu, muito pelo contrário: é reconhecer o que se sente, na hora devida, para que se consiga ir adiante. Tentativas de ignorar a própria dor, com urgência de ficar “bem”, “forte” e “produtivo”, podem levar a processos de adoecimentos ainda mais difíceis de se tratar posteriormente. É muito importante, portanto, aceitar que ninguém consegue ficar bem o tempo todo, principalmente em tempos de pandemia. Assim, vivenciar os próprios lutos é dar oportunidade para que se consiga, aos poucos, redirecionar a energia psíquica para a retomada das atividades da vida da forma mais adaptada possível.

Essa é a nossa dica: admita, reconheça, respeite e vivencie o processo de luto frente às rupturas da vida. E encontre uma forma de expressá-lo: fale sobre ele, ou mesmo escreva. Assim, será possível manejá-lo de forma a cultivar a saúde, tão importante para a manutenção e retomada das atividades da vida!

 

Josely Guimarães, psicóloga do Campus Riacho Fundo (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.)

Luísa Meirelles, psicóloga do Campus Estrutural (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.)

 Raquel Ghetti, psicóloga do Campus Ceilândia (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.)

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