Algumas palavras para pais e responsáveis...sobre o adolescente e o isolamento social
O isolamento social, que se tornou a medida mais eficiente de controle do surto de coronavírus, está exigindo uma atenção especial para as questões relacionadas à saúde mental de adolescentes. Com o fechamento das escolas e eventos cancelados, os jovens perdem a oportunidade de participar de encontros presenciais, conversar com amigos, praticar esportes coletivos, assistir às aulas, entre outras atividades fundamentais para o seu desenvolvimento e bem-estar.
Na adolescência, ocorrem mudanças naturais, físicas e emocionais, que fazem com que estejam presentes muitos desafios, tanto para a pessoa que está se desenvolvendo quanto para as pessoas que a rodeiam. A experiência dessa fase de vida pode ser ao mesmo tempo emocionante e desconcertante. Mas o que traz a essa etapa tantas possibilidades?
Sabemos que muitas características são repetidamente atribuídas à adolescência: explosão de hormônios que fazem com que o adolescente “perca a cabeça”, falas sobre serem “preguiçosos”, “sem foco”, “descontrolados”, e por aí vai... A má notícia, é que as crenças que as pessoas expressam sobre nós interferem muito na maneira como nos enxergamos e nos comportamos. Como bem ponderou Fritz Perls (1977): "O primeiro e último problema do indivíduo é integrar-se internamente e ainda assim, ser aceito pela sociedade."
Quando admitimos esse período da vida como uma fase ruim, que precisa ser superada, tolerada, ou na qual o adolescente precisa simplesmente sobreviver, temos uma visão limitada. Se, ao invés disso, desenvolvemos o olhar para observar aspectos positivos, como a criatividade, o interesse pelo desconhecido, a colaboração entre os pares, o ânimo para se engajarem e defenderem o que acreditam que pode tornar o mundo melhor, por exemplo, percebemos que está diante de nós um cenário em que podem ser estimuladas características pessoais essenciais para que seja uma fase bem vivida e torne-se a base para uma vida futura repleta de sentido, ao invés de inseguranças.
Outra particularidade da adolescência, é o desenvolvimento do processo que chamamos de independência, que se faz possível por meio de um espontâneo movimento de modificação da natureza dos laços, especialmente nas relações com os familiares. O(a) adolescente passa a buscar bastante apoio entre seus pares, fazendo o movimento de distanciando-se da “dependência” e caminhando em direção à “interdependência”.
Evidencia-se, então, uma grande questão: como será o impacto do isolamento social que estamos vivenciando para a necessidade de trocas e de conexão entre os adolescentes? Afinal, a interação é essencial para o desenvolvimento humano, e nesta fase, especialmente a interação com os pares. Trata-se de uma situação totalmente nova e atípica para a qual ainda não temos resposta definitiva.
Por outro lado, o isolamento trouxe uma oportunidade de retomada de vínculos. Estamos em um momento propício para que os pais possam aproximar-se com empatia, com uma curiosidade genuína por saber quem é seu filho ou filha, pelo que se interessa, e como pode conhecê-lo(a) melhor. É importante que os pais estejam atentos para não se tornarem um “manual de instruções“ para os filhos, no sentido de querer impor sua própria adolescência ou suas próprias vivências, sem interessar pelo modo único de ser de de cada um. Há uma grande diferença entre demonstrar interesse e vigiar, impor, não é verdade?
É uma grande tarefa acompanhar essa jornada, e muitas vezes dolorida. Conhecer mais sobre o desenvolvimento de seus filhos, sobre as mudanças neuronais e psíquicas, pode ajudar a diminuir o preconceito e tornar a convivência mais suave. Por mais desafiador que seja, fundamental estarem atentos para não levar para o “pessoal” ou tomar como enfrentamento a necessidade de espaço, a diminuição repentina da procura por colo, a impulsividade, a expressão de raiva, a mudança repentina nos laços afetivos.
A adolescência é mesmo a fase de distanciar-se dos primeiros modelos para construir-se individualmente. Nos momentos em que se encontram isolados(as), pensativos(as), estão fazendo o seu trabalho de crescer. E todo esse trabalho pode vir acompanhado de muita angústia, fazendo com que precisem de muito apoio e de serem realmente ouvidos. É importante que como pais, adultos e mais maduros, não diminuam as angústias e sofrimento deles. É preciso lembrar que por mais que saiba que aquela dor vai passar, e que para você seja só uma “besteira de adolescente”, aquele é o mundo dele(a), e que aquelas dificuldades são as que a pessoa, no nível de desenvolvimento em que se encontra, tem que lidar. Que para seu filho(a), aquilo é o mundo. Valide os sentimentos deles, escute com atenção inclusive quando ele(a) silencia, esteja próximo, mas dê o espaço que ele(a) precisa.
Assim, será possível em momento posterior, a percepção sobre o quanto seu desenvolvimento individual alicerçou-se também em suas raízes. É um delicado equilíbrio entre permitir o espaço necessário para que o adolescente possa lidar com seus lutos, com seu entendimento sobre o corpo e sobre suas relações balanceando com a disponibilidade para preparar um vínculo seguro e de apoio. É saber deixá-los explorar o mundo, serem autônomos, sabendo que têm para onde voltar, com quem contar. De todo modo, saúde mental diz respeito a fluidez, a reconhecer os sentimentos mas não se fixar em nenhum, e permitir-se experimentar as situações como forma de aprendizado.
Iasmin Santos (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.)
Lorena Costa (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.)
Marina Branco (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.)
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