Algumas palavras...sobre o ciclo vital: adolescência
A adolescência é uma fase do desenvolvimento humano, e seu conceito foi por muito tempo vinculado à fase adulta, sendo esta (a fase adulta) considerada a fase ideal do desenvolvimento humano, assim como a infância e a velhice, que também têm a fase adulta como referência.
Infância: crianças já foram consideradas adultas em miniaturas; depois a infância foi considerada tempo de maturação biológica que requer cuidados e tempo para ‘desabrochar’. Por muito tempo os anos iniciais da escola eram o ‘jardim de infância’.
Adolescência é uma fase de transição: não é a infância, mas ainda não é a fase adulta. Então o adolescente fica entre fases, sem papel claramente definido.
A idade adulta é o foco das referências em maturidade biológica, social e emocional, em teoria.
E a velhice foi vista por muito tempo como o fim da idade adulta, vinculado como inatividade.
Essas definições são limitadas e não podem ser consideradas como verdades, e sim como ponto de partida de reflexão.
Estamos em desenvolvimento sempre, e para cada fase há limitações e possibilidades.
Neste texto falaremos sobre adolescência.
Menandro (2004) aborda o conceito adolescência a partir de algumas características enfocadas por diversos estudos. São elas:
1- Ambiguidade: diz respeito ao fato de que a vivência da adolescência é entendida como cada vez mais instável quando comparada a outras épocas ou etapas da vida. Devemos ressaltar aqui o fato de que já no trabalho de Hall a vida emocional do adolescente foi percebida como uma oscilação entre tendências contraditórias (Muuss, em Menandro, 2004).
2- Transitoriedade: refere-se à etapa da vida que o adolescente está vivendo, considerada instável e passageira; a isso decorre uma desconsideração, algo passageiro até atingir o ideal de adulto, mais estável.
3- Crise Potencial e Ruptura: quase como um produto das duas anteriores; o adolescente sofre a incerteza da ambiguidade e não tem a consideração por causa de sua condição transitória. A crise e a ruptura são reações a esse conjunto de fatores que ele vive.
4- Adaptabilidade e Potencialidade de Mudança: os adolescentes são flexíveis, pois ainda estão formando sua identidade, sua posição diante da sociedade. Muitos adultos tentam passar adiante valores e regras, porém os adolescentes podem tanto se adaptar quanto captar esses valores de uma forma nova e própria, condizente com o quem eles são.
5- Ideias genéricas de Juventude como condição compartilhada: o que os estudos falam são concepções gerais sobre adolescentes e jovens, passando a ideia de que todos eles são iguais, não considerando seu nível socioeconômico nem sua cultura.
Em geral o adolescente seria um ser em transição, buscando sua identidade e tendo sua liberdade de expressão negada ou não considerada pela sociedade. Dessa forma, organizam-se em grupos ou produzem expressões de sua criatividade de formas diferenciadas do mundo adulto.
Então, é nessa fase de transição e de ter que esperar para fazer algo dito importante que os adolescentes estão, e por isso eles tendem a fazer com que esse tempo passe rápido, ou então tentam de outra forma conquistar atenção e respeito por parte dos adultos ou então entre eles mesmos.
Calligaris fala sobre a formação de grupos entre os adolescentes, uma tentativa de se identificar e buscar respeito entre eles.
Dos adolescentes em conflito com a lei – buscam com a transgressão das leis serem considerados adultos. O toxicômano, que busca nas drogas o prazer que lhe é negado, principalmente no que diz das atividades sexuais. O adolescente que se enfeita – ele dá os exemplos do piercing no umbigo e os que usam a cueca aparecendo, ambos focando o olhar do outro perto da região da genitália. O adolescente barulhento, que ou fica com o som alto demais ou então sempre está com fones nos ouvidos, Calligaris fala em “ou te deixo surdo, ou não te ouço”, mostrando a rebeldia dos adolescentes perante os adultos.
Além dessas classificações, Calligaris discorre sobre um assunto interessante: como o adolescente é desobediente, e nessa desobediência ele é obediente. Ele nos fala que a vitalidade do adolescente e a sua força de mudança causam inveja nos adultos, que na verdade querem que eles sejam do jeito que eles são, embora peçam para serem calmos e esperarem. Os adultos na verdade gostariam de voltar a ser adolescentes e reviver toda essa rebeldia, que, agora, como adultos, não podem devido às demandas da vida adulta.
Essa desconsideração pelos jovens contribui para os diversos tipos de abusos, como o físico e o sexual, muitas vezes cometido por pessoas próximas.
Em relação aos valores que os jovens têm, como dito antes, muitas vezes os jovens não só aceitam como adaptam os valores que lhes são transmitidos. Algo que devemos considerar são os meios de comunicação em massa, que cultuam o consumo. Produzem ídolos, modelos para serem consumidos e imitados. Cultuam o corpo físico e o prazer, fazendo com que grande parte dos adolescentes, que estão na fase de se estruturar como indivíduos, busquem o ideal vendido pela imprensa, ocasionando doenças como a bulimia e anorexia, o inchaço das academias, o uso de drogas entre outros. As informações sobre sexo vêm sendo divulgadas em grande escala, muitas vezes de forma equivocada, tendo como consequência a atividade sexual entre os adolescentes de forma não saudável.
Algo interessante de se notar é que as relações de gênero vêm saindo do modelo patriarcal para um equilibrado, em que todos têm sua independência, e os assuntos são mais discutidos entre os jovens: empoderamento feminino, famílias com diversas formas estruturais, vivências LGBT, preservação ambiental, discussões sobre políticas públicas, dentre outros temas.
A demanda atual da sociedade é a adaptação na rapidez das informações construídas e consumidas, na importância de ser flexível e instruído. Isso ocasiona a exclusão de boa parcela dos adolescentes, pois não têm acesso a direitos mínimos de educação e saúde. Isso tudo gera no adolescente uma descrença do seu próprio futuro.
Depois dessa visão geral entre os autores, percebe-se que a adolescência ou então juventude é algo construído socialmente. E que o conceito não é singular nem universal, mas totalmente plural e relativo, tendo que considerar desde a cultura até os valores que cada adolescente cria para si.
Em relação ao aspecto negativo referente à adolescência, origina-se de uma falta de diálogo entre adultos e adolescentes sobre o que querem, o que pensam, diálogo que poderia construir um novo conceito de adolescente para ambos.
Referências
Menandro, M. C. S. (2004). Gente jovem reunida: um estudo de representações sociais da adolescência/juventude a partir de textos jornalísticos (1968-1974 e 1996-2002). Tese de Doutorado. Universidade de Federal do Espírito Santo, Vitória. pp. 6-65
Calligaris, C. (2000). A adolescência. São Paulo: PubliFolha. 81p.
Josely Gomes Guimarães
Psicóloga do Campus Riacho Fundo
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