“Os povos indígenas existem e resistem na cidade”
“Os povos indígenas existem e resistem na cidade”. Com essa frase, a estudante Hellen Torres, do 5º semestre de Pedagogia do IFB Campus São Sebastião, resume o sentimento de um povo neste dia 19 de abril.
Hellen é uma indígena em contexto urbano e faz parte de uma geração que está inserida ativamente na sociedade e quer ter de volta a voz que foi tirada do seu povo ao longo da história.
“Nossa família veio do Ceará, e o nosso povo é o Kariri. Eu faço parte da retomada indígena, que é um movimento de resgate da cultura e tradições indígenas, que nos foram roubadas”, explica Hellen, que nasceu e cresceu na Ceilândia, cidade em que sua avó foi uma das primeiras moradoras.
A estudante explica que a retomada indígena é um processo de se reconhecer como indígena dentro da sociedade, que, por muito tempo, erradicou o seu povo, colocando-o à margem e na periferia.
“Nesse grupo a gente busca as nossas raízes. Com base em análises de documentos, reportagens antigas e de vários outros elementos, a gente vai procurando a história desses povos que foram dizimados, principalmente os do Nordeste. Inclusive a gente conta com ajuda de pajés nesse processo de como se reconhecer como indígena na sociedade”, explica.
Os encontros aconteciam de forma presencial, em formato de Rodas de Conversas, no Acampamento Terra Livre, mas, em decorrência da pandemia, tiveram de ser suspensos. Mas as atividades seguem de modo virtual, seja em grupos de WhatsApp ou Facebook. Os membros também possuem um perfil no Instagram. Quem se interessou e quiser conhecer mais sobre o projeto, é só seguir @retomada.kariri.ce.
19 de abril
O presidente Getúlio Vargas, por meio de um decreto-lei em 1943, instituiu o dia 19 de abril como o “Dia do Índio”. Ao longo dos tempos, é comum a data ser celebrada, principalmente em escolas, com o estereótipo de um “índio genérico”, com cabelo liso, tanga e uma pena na cabeça.
Porém, o doutor em Educação pela USP e indígena Daniel Munduruku disse, em entrevista à BBC Brasil, que a data comemorativa só ajuda a cimentar preconceitos sobre os povos tradicionais, e que poderia ser substituída pelo Dia da Diversidade Indígena.
"A palavra 'indígena' diz muito mais a nosso respeito do que a palavra 'índio'. Indígena quer dizer originário, aquele que está ali antes dos outros", defende Munduruku.
A sugestão que o pesquisador faz é que a sociedade deixe de usar o 19 de abril como uma data comemorativa, e sim como uma data para reflexão que possa gerar nas pessoas um desejo de conhecer, de entrar em contato com essa diversidade dos povos indígenas.
“Talvez a data devesse ser chamada de Dia da Diversidade Indígena. As pessoas acham que é só uma questão de ser politicamente correto. Mas quem lida com palavra sabe a força que a palavra tem. Tanto que apelido tem uma força destruidora - e "índio" é, de certa forma, um apelido. Um Dia da Diversidade Indígena teria um impacto semelhante ao Dia da Consciência Negra, que gerou uma mudança absolutamente significativa”, finaliza.
IFB
IFB
Assim como Helen, atualmente o Instituto Federal de Brasília conta com outros 66 estudantes matriculados autodeclarados indígenas, segundo dados do Sistema de Gestão Acadêmica (SGA) do IFB.
Desde que o sistema foi implantado, no ano de 2015, a instituição formou 39 estudantes de origem indígena. E é esse o sonho de infância da Hellen, que está bem próximo de ser realizado: finalizar a graduação em Pedagogia e se tornar professora, para educar e ajudar a construir uma geração mais justa, plural e igualitária do que esta e as que já passaram.
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