Trabalho e Educação
Claudio Nei Nascimento da Silva
Daniele dos Santos Rosa
Marcelo de Faria Salviano
Rosa Amélia Pereira da Silva
Simone Braz Ferreira Gontijo
Veruska Ribeiro Machado
Professores do Programa de Mestrado em Educação Profissional (Profept) do Instituto Federal de Brasília
O desenvolvimento das sociedades, ao longo de toda a história humana, decorre de múltiplos aspectos. Entre todos eles, destacamos a importância do trabalho. O trabalho, compreendido como o meio pelo qual a humanidade produz e reproduz a sua existência, determina também o próprio ser humano: sua identidade enquanto ser social. Se há um aspecto que diferencia os seres humanos dos demais seres animais, este aspecto é o trabalho, pois foi por meio dele que - em um primeiro ato histórico - foi possível satisfazer suas carências pela apropriação de elementos antes naturais, como um tronco ou uma pedra, e transformá-los em ferramentas, em instrumentos que possibilitaram a esses seres se tornarem humanos, agindo e modificando o meio a seu redor, humanizando tudo a sua volta e a si mesmo.
Nossos olhos, nossas mãos, nossa consciência, todos nossos sentidos também se humanizaram. O trabalho e a linguagem se tornam, então, a mediação fundamental de relacionamento entre os seres humanos - são, portanto, ações tipicamente humanas que, enquanto processos implicam, necessariamente, o desenvolvimento constante e a capacidade plena de aprendizado. Por isso, ao tomarmos o trabalho como categorial vital e elemento determinante da condição humana no mundo, percebemos sua dimensão de totalidade da vida e dos processos de reprodução das sociedades. A centralidade do trabalho na vida humana vai além de sua noção de trabalho enquanto emprego. Para essa totalidade que é o trabalho, a educação não serve apenas para formar mão de obra qualificada, mas cidadãos conscientes de seu papel e de sua contribuição para o desenvolvimento geral da sociedade.
O papel da educação, nessa perspectiva é, portanto, responder a essa totalidade com um modelo educativo que não restrinja os processos pedagógicos a um saber-fazer apenas, ou a uma formação exclusivamente voltada às demandas das forças produtivas, desconsiderando, com isso, o próprio ser humano como centralidade de toda e qualquer força produtiva social. A conscientização como ação crítica integra, em conjunto com o trabalho e a linguagem, dimensões de completude do ser. É por meio da educação, em seu sentido amplo, que a consciência, ora ingênua, vai tornando-se crítica, num processo de humanização e transformação dos sujeitos.
Trabalho e educação devem, então, ser compreendidos como forças complementares, o que nos leva a desconsiderar qualquer tentativa de separação entre essas duas categorias. A separação entre trabalho e educação pode levar também à separação entre quem pensa e quem executa; entre um saber fazer e um saber pensar; entre conhecimentos gerais e conhecimentos específicos. Tanto o trabalho quanto a Educação precisam do nosso reconhecimento enquanto parte de uma generidade, enquanto comunidade. O aprendizado que se dá na vida cotidiana por meio do trabalho e dos processos educativos somente pode despertar e proporcionar os inúmeros processos internos de desenvolvimento quando interagimos, quando nos relacionamos. O homem é um ser relacional, porque se constitui nas relações com o mundo, com o trabalho, com o outro. Os sujeitos se fazem por meio do trabalho e se libertam por meio do processo pedagógico do conscientizar-se. Tal processo só se torna conscientizador quando se contrapõe à dicotomia entre uma educação para o fazer e outra para o pensar; quando proporciona compreensão dos movimentos históricos dos quais os trabalhadores participaram; e, com isso, desenvolve a autonomia e o senso crítico.
A constante interação da educação com o trabalho é uma das principais estratégias dos processos de inovação que vemos hoje nos diversos setores produtivos. Novas maneiras de se produzir são demandadas pelo trabalho e a educação proporciona um olhar crítico e criativo em busca de soluções, o que traz qualidade e eficiência ao trabalho. Nesse sentido, em uma data tão importante como o 1º de maio - em um ano tão marcadamente difícil como o que temos vivido - nada mais essencial do que retomarmos o debate sobre o presente e o futuro que queremos. A construção de um futuro está na base do que fazemos no agora. Na ação humana sobre o mundo - no trabalho, em sua articulação com o ensinar e o aprender - é que, enquanto coletividade, podemos construir dias melhores que estão no porvir.
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