Abertura do #8M IFB discute o papel da escola na desconstrução de estereótipos de gênero
Na manhã desta terça-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, ocorreu a cerimônia de abertura da programação do #8M IFB. O evento é dedicado ao tema “O combate aos estereótipos de gênero no contexto educacional''.
On-line, a transmissão ao vivo foi pela TV IFB, no Youtube, e contou com a participação de três lideranças femininas na educação do Distrito Federal. As reitoras Luciana Massukado, do Instituto Federal de Brasília (IFB), Márcia Abrahão, da Universidade de Brasília (UnB), e Simone Benck, reitora pro tempore da Universidade do Distrito Federal (UnDF), compareceram na mesa de abertura.
A mediação do encontro ficou a cargo de Cristiane Salgado, chefe de Gabinete da Reitoria do IFB. Além disso, o #8M contou com interpretação simultânea em língua brasileira de sinais (Libras), com intérpretes do IFB.
Cristiane Salgado começou o evento saudando os participantes, principalmente as mulheres pelo dia. “Minha saudação às lutas das nossas antepassadas que nos permitiram caminhar até aqui. A todas que estão trabalhando, militando, pesquisando, estudando, aprendendo e rompendo todos os espaços no mundo. Uma saudação a todas que estão trabalhando nesta live e nos assistem”, cumprimentou.
Durante a programação de abertura, foram exibidos ao público três vídeos de alunas do IFB que ganharam o concurso “IFB contra o assédio” feito no último #8M, em 2021. Perdeu a live ou os vídeos apresentados? Para conferir, é só clicar aqui.
Dia marcado por lutas
Em sua saudação inicial, Simone Benck, reitora pro tempore da UnDF, trouxe para reflexão o tema "qual o valor da alteridade e da identidade da mulher na ciência". Segundo Simone, temos uma cultura construída com base no patriarcado, com relações competitivas e valorização de características masculinas. Por isso, “nossas atuações profissionais e posturas pessoais são essenciais para ressignificar uma prática social que dê sentido a quem somos”, como mulheres.
Nesse processo de construção de identidade, é preciso refletir sobre a alteridade. “Alteridade significa ser a outra, colocar-se no lugar da outra e perceber a outra como uma pessoa singular e subjetiva”, resumiu a reitora. Simone também reforçou a importância do Dia Internacional da Mulher, como uma data que existe para simbolizar as décadas de luta e reconhecimento da causa feminina.
Muitos anos de luta, principalmente no mercado de trabalho e na vida acadêmica. A reitora da UnB, Márcia Abrahão, citou a própria formação como exemplo. “Sou geóloga de formação, e as mulheres encontram barreiras para exercer determinadas profissões. A minha é uma delas. Temos que continuar a ampliar o espaço das mulheres nas profissões ditas historicamente masculinas”, acrescentou. “O combate aos estereótipos de gênero no contexto educacional é algo que nós temos que fazer todos os dias.”
A anfitriã, Luciana Massukado, também se aprofundou em sua fala de abertura sobre a construção de estereótipos. Ela destacou que, além de vivermos numa sociedade machista, vivemos em um contexto homofóbico e patriarcal “que se silencia diante da violência contra a mulher”.
Segundo a reitora do IFB, o #8M foi construído de forma coletiva e tem o objetivo de levar a discussão a todos. “É pra isso que estamos aqui neste momento: para que outras mulheres se inspirem e avancem”, pontuou. “Ser mulher é desafiador, porque quando a gente se junta, conseguimos fazer grandes movimentos.”
Mulher é sinônimo de cuidado?
Após a mesa de abertura, foi a vez do debate sobre o tema “Os estereótipos de gênero e os desafios na educação e nas políticas públicas”. Participaram do bate-papo Olgamir Amancia Ferreira, decana de Extensão da UnB e Conselheira do IFB, e Ilka Teodoro, administradora regional do Plano Piloto.
Além de contribuir para o debate, Olgamir Ferreira também faz aniversário neste dia 08 de março e disse se sentir muito feliz por ser no Dia Internacional da Mulher. “Isso me traz muita alegria, porque significa um compromisso permanente com a luta das mulheres”, vibrou.
Olgamir destacou que a sociedade é separada em espaços públicos e privados, sendo que o primeiro é destinado ao poder e o último associado às mulheres. “As ocupações pensadas para as mulheres são sempre as não valorizadas pela sociedade”, completou.
Porém, o fato de termos mulheres ocupando cargos de liderança na educação do DF a deixou otimista. “Quando a gente olha para essa mesa, com mulheres ocupando espaços que foram pensados historicamente como espaços de poder, a gente fica mais esperançosa”, afirmou.
Para que haja essas brechas de ocupação de espaços, entra a educação. Na visão de Olgamir, as meninas sempre foram estimuladas a atividades e brincadeiras de cuidado, enquanto o menino é estimulado para atividades de rua. Mas, “não podemos naturalizar comportamentos ou situações que são próprias para um e não são para outro”. “Nós podemos mudar e transformar para que a questão de gênero que foi invisibilizada esteja presente nos currículos”, acrescentou.
Já Ilka Teodoro ponderou que, mesmo que se trabalhe com os estereótipos de gênero nas escolas, existe outra questão: muitas meninas não frequentam o universo da educação. E isso ocorre por diversos fatores, como a precariedade do lar, necessidade de contribuir para a subsistência da família e a exploração do próprio corpo.
Por isso, ela propõe que os espaços educacionais sejam locais efetivos. “Vamos transformar currículos e fazer com que as questões de gênero estejam nesses documentos e possam transformar educadores comprometidos com a educação emancipatória”, desafiou. “A gente tem muito pouco a comemorar, porque falta um longo caminho pra gente dizer que temos uma igualdade material identificada.”
A administradora regional do Plano Piloto também incentivou que o #8M se tornasse um projeto de extensão para debater e tirar as ideias do papel. “Podemos pensar em projetos de lei, reunir os alunos para debaterem o que nos toca, o que nos alcança e construir políticas”, apontou.
Segundo Ilka, na política, as mulheres eleitas discutem apenas assuntos mais “suaves”. Mesmo quando a mulher acessa espaços de poder, elas são blindadas de participar de decisões maiores. A mensagem que fica é: “não é fácil ser mulher, mas desistir não é uma opção. Vamos semear a esperança de dias melhores para as próximas gerações”.
Ao final, Luciana Massukado agradeceu a participação das convidadas e reforçou que o IFB vai institucionalizar todos os Núcleos de Gênero e Diversidade Sexual (Nugedis) e de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabis) para que todos os campi sejam contemplados. Além disso, está em processo um levantamento de todos os projetos de ensino, pesquisa e extensão que abordam a questão de gênero no IFB.
#8M continua
Na próxima semana, dia 18 de março, a psicóloga e pesquisadora da UnB Valeska Zanello participa do encerramento do evento com o tema “Estereótipos de gênero: como identificar, combater e superar”. Participe conosco dessa entrevista interativa e envie suas perguntas pelo chat! A transmissão vai ocorrer às 10h, na TV IFB, no YouTube.
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