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Ser deficiente é fashion

Criado: Terça, 10 de Abril de 2012, 17h27 | Publicado: Terça, 10 de Abril de 2012, 17h27 | Última atualização em Quinta, 05 de Dezembro de 2013, 10h22 | Acessos: 2836

O sociólogo, professor, mestre e pesquisador do Instituto Federal do Amazonas, Dalmir Pacheco de Souza, é uma pessoa de insights. Em um deles, produziu uma crônica com o título acima, para refletir sobre uma situação que vivencia diariamente: a invisibilidade social. É que Dalmir desenvolveu a paralisia infantil, ou poliomielite, que deixou sequelas, atrofiando suas pernas, o que faz com que ele precise de auxílio de cadeira de rodas, ou apoio humano, em seus deslocamentos. Mas o professor e pesquisador enfrenta uma questão que perturba muito algumas pessoas com quem tem que lidar, em suas atividades cotidianas, pois elas não sabem como chamá-lo, se de deficiente ou de especial. “Ô gente, eu digo para elas, podem me chamar de Dalmir que eu respondo”, diz, rindo. Dalmir enfrenta o preconceito e a invisibilidade social assim, com humor e com trabalho, muito trabalho, no Projeto Curupira, de promoção à acessibilidade no IFAM. Mas este é apenas um dos desafios a que se propõe enfrentar, a exemplo de incentivar seus apoiadores e parceiros a criar material pedagógico para os deficientes – como uma cartilha de Matemática em libras, ou a difusão dos direitos civis, como poder viajar de avião com um acompanhante que pagará apenas 20% do preço da passagem.

 

“Lá em casa todo mundo viajou, e tem lista de espera”, dispara, certeiro como o Curupira, lenda brasileira que fala de um personagem defensor dos bichos e das florestas, capaz de devorar aqueles que agridem o meio ambiente. Nada demais para quem tem que devorar um leão por dia, na defesa de suas ideias de inclusão social das pessoas com deficiência. “Outro dia eu entrei num banco e vi que tinha uma fila enorme para atender os deficientes, grávidas, idosos, com criança de colo....E do lado, uma fila para atender os demais clientes, com apenas cinco pessoas. Entrei na fila menor. Aí chegou um cara grandalhão, entrou atrás de mim e começou a me cutucar: Olha, sua fila é aquela ali. Olhei para ele e disse: É, eu vi. E continuei onde estava. Ele insistia em me cutucar, e em me mostrar a minha fila. Mas o que dói, reconhece, é a invisibilidade social. Uma vez, no aeroporto, acompanhado de minha filha, a atendente da companhia aérea só falava com ela sobre mim. Se eu precisaria de uma cadeira para entrar no avião etc. Num restaurante, em Manaus, com um amigo, a atendente falou para o amigo: Manda ele sentar aí que eu vou servir ele. O amigo me olhou e falou: Olha, é melhor você sentar que a mulher mandou”.

 

Com o projeto Curupira, Dalmir dedica-se, ainda, à difusão dos direitos dos deficientes, reconhecidos na Constituição de 1988, mas que, com muita dificuldade, vão sendo implementados.”Descobri que dinheiro existe; o que falta são projetos. Então estamos dando minicursos pelos Institutos Federais para ensinar como fazer os projetos. Desde 2007, Dalmir Pacheco coordena o Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Especiais/NAPNE, do Instituto Federal do Amazonas, e dá cursos e palestras auxiliando os demais Institutos a se organizarem nesse setor.

 

José Roberto Fonseca Vieira é assistente social, assistente da Faculdade de Ciências Sociais da UNB, palestrante e coordenador do Programa de Apoio aos Portadores de Necessidades Especiais/PPNE da Universidade de Brasília. E José Roberto é cadeirante.”Quando cheguei na universidade as pessoas sugeriam que fizesse computação; queriam me colocar na caixinha. Eu resolvi fazer Ciências Sociais, pois mexer com gente é mais interessante que mexer com máquinas”, comenta.

 

Para ele, quando foi instituída, a UNB não se preocupou com os deficientes porque esta não era uma preocupação da sociedade brasileira. As famílias criavam os filhos deficientes em casa, sem contato social. Daí, nem escola, nem empresas, nem órgãos públicos se deram ao trabalho de criar os ambiente em que deveriam estar, por direito. “Os programas que existem foram criados por pressão social. As políticas de inclusão que vêm dando resultado são aquelas em que a sociedade se organiza e mobiliza. Mas não adianta o deficiente estar na universidade; é preciso que esse trabalho comece no Ensino Fundamental, senão a criança não chegará à universidade”, explica.

 

Para Dalmir e José Roberto, Educação é igual à qualificação para o trabalho, e trabalho é aquilo que dá dignidade e perspectiva de renda para o deficiente, que pode disputar uma vaga no mercado de trabalho. “Gente, o mercado nos descobriu, pois agora somos consumidores. O aluno deficiente não é um peso, é um desafio para a inclusão social, e isto é feito de forma conjunta, entre nós, os deficientes, que somos especialistas no assunto, e os demais”, comenta José Roberto.


Cláudia Grabois é ativista dos Direitos Humanos desde os anos 1980, participa do blog www.inclusaoja.com.br, de defesa do direito à educação inclusiva, participa da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da Ordem dos Advogados do Brasil/OAB.RJ, é consultora do MEC, e escreve para o site do Instituto Baresi, instituição dedicada à defesa e ao auxílio a pessoas com doenças raras.

 

Em recente artigo, Cláudia mostra como vem evoluindo o tema da Educação para os deficientes: “As matrículas de estudantes com Síndrome de Down em classes comuns, felizmente, crescem e são incentivadas – inclusive por instituições especializadas. Lamentavelmente, tal incentivo não acontece na mesma intensidade para pessoas das mesmas idades com paralisia cerebral, transtorno global do desenvolvimento ou deficiência múltipla. Posso concluir que existe uma triste “seleção natural” que me assusta. Considerando que a maioria das pessoas com deficiência é pobre, poderia dizer que tais práticas podem vir a promover, a médio prazo, um apartheid entre as deficiências. Ou seja, as pessoas com deficiências consideradas “leves e moderadas” – e as mais abastadas – exerceriam os seus direitos, sendo que as consideradas “graves” – principalmente as mais pobres – continuariam nas instituições (e a viver na linha da pobreza). Ideias que, inclusive, foram bem difundidas durante o ano de 2011, com o uso dos termos mencionados” (leia mais em: http://institutobaresi.com/tag/claudia-grabois/).

 

Para ela, Direitos Humanos era uma atenção que se dava para tudo, menos para os deficientes, o que só ocorreu em sua vida após os anos 1980. Hoje, mãe de uma filha com deficiência intelectual, Cláudia também percorre o Brasil difundindo os direitos das pessoas com deficiência. “O nome que dão já diz tudo, pessoa com necessidade especial. Isto quer dizer que antes de ser especial, elas são pessoas”, diz. Para ela, a escola boa é aquela que primeiro aceita o deficiente e que o acolhe. “O aluno deficiente precisa ser bem recebido como pessoa da sociedade, que precisa progredir e ganhar a vida. E isso só é possível com qualificação e formação para o emprego”.

 

Citando dados estatísticos, Cláudia Grabois diz que 80% dos deficientes são pobres, o que perfaz milhões de pessoas, no Brasil, sem acesso à educação e à saúde.

 

Dados oficiais mostram isso, pois em 2008 foi identificado que 71% dos beneficiários do BPC, com deficiência na faixa etária de zero a 18 anos, estão excluídos da escola. A sociedade exigiu, e o MEC aliou-se aos ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, além da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, em parceria com municípios, estados e com o Distrito Federal,  para realizar o acompanhamento e monitoramento do acesso e da permanência na escola das pessoas com deficiência, beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada/BPC, articulando as políticas de educação, saúde, assistência social e direitos humanos. (Clique aqui e saiba mais).

 

Ah, a presença de Cláudia, Dalmir e José Roberto no Instituto Federal de Brasília foi para sensibilizar diretores-gerais e servidores para o tema, dentro do projeto Diálogos Formativos, uma iniciativa da Pró-Reitoria de Ensino, com apoio da Pró-Reitoria de Extensão, à qual os NAPNES dos campi estão subordinados. A palestra aconteceu na parte da manhã. À tarde, eles deram um minicurso para ensinar a apresentar projetos que permitem a liberação de dinheiro para atender aos estudantes com necessidades especiais.

 

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