II Forcampo: Trabalho e pesquisa como princípio educativo
Na tarde do dia 14 de junho, a programação do II Seminário do Fórum de Educação do Campo da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica recebeu a palestra “Trabalho e pesquisa como princípio educativo: Práticas pedagógicas e curricularização da extensão nos campi agrícolas”. A mesa de três integrantes foi mediada pela professora do Instituto Federal do Pará (IFPA) Rosimeri Scalabrin, que celebrou a ocasião com a leitura alusiva do poema “Concentração de Direitos”, de autoria de Diva Lopes.
O primeiro membro com a palavra foi Gaudêncio Frigotto, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e uma das maiores referências na área. Frigotto iniciou sua fala celebrando a importância dos temas de discussão do Seminário e toda a atuação dos Institutos Federais, citando-os como “a política pública mais importante que o país já teve”. Sua participação foi guiada em três tópicos: o que é trabalho e o que é o trabalho socialmente produtivo; a pesquisa e a extensão como formas de entendimento do real e da união de teoria e prática; e como o ensino médio integrado age de forma a entender e aplicar esses princípios educativos.
O professor Frigotto argumentou que o trabalho deve ser não apenas um dever social, mas um direito a todos, uma vez que, baseando-se em fundamentos filosóficos, é a forma com a qual nós, humanos, nos relacionamos com a natureza. Depois, destrinchou como se dão as relações de trabalho, considerando a realidade de disparidades e preconceitos que englobam a vida do trabalho no campo.
Frigotto também argumentou que a educação deveria ser participativa, em que o estudante pudesse tanto sentir-se motivado tanto a prosseguir no caminho do aprendizado, quanto a se tornar agente de soluções das questões a sua volta. Segundo ele, “educar é não sonegar aos jovens os problemas que a sociedade enfrenta”. E por fim, Frigotto defendeu um ensino médio integralizado, em que se prestasse atenção tanto às disciplinas técnicas, quanto às intelectualizadas. “Um currículo equilibrado que entenda as leis da natureza e a lei dos indivíduos em sociedade”, afirmou.
Dando prosseguimento, o segundo membro da mesa foi Claudino Ortigara, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais (IFSuldeminas). A fala de Ortigara baseou-se no questionamento sobre se “era possível reproduzir o modelo de ensino das escolas agrícolas anteriores às mudanças legislativas dos anos 80 e 90”. Para isso, ele contextualizou a então realidade dessas intuições, em que até o início do novo século havia cerca de apenas 40 escolas agrotécnicas, que contavam com investimentos federais e estrangeiros e eram capazes de “reproduzir as condições reais de trabalho”.
Ortigara respondeu ao questionamento afirmando que mais de 20 anos depois a dicotomia entre os ensinos médio e técnico e as novas realidades do perfil de ingresso e de expectativas dos estudantes tornavam essa reprodução inviável. Ortigara concluiu então que é preciso repensar a educação profissionalizante e tecnológica, de modo que ela não atenda a uma formação funcionalista, mas que crie bases para o indivíduo, para que assim ele tenha poder de escolha, superior ou profissional, gerada a partir de suas competências e interesses, e não a partir das condições geradas pela instituição de ensino.
O último membro da mesa, o professor Nilson Nunes Moraes Jr, do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), fez um panorama do passado histórico e político das escolas agrícolas, destacando sua transição para o modelo de Institutos Federais. Em seguida, contextualizou os institutos em meio ao cenário geoeconômico atual do Brasil em relação aos outros países do mundo.
A participação do professor Nunes teve como objetivo dar início à discussão para rediscutir as matrizes do ensino do campo, tendo em vista os desafios do gerenciamento da produção da agropecuária em relação às demandas internas e externas e às novas mudanças tecnológicas. Para ele, os Institutos Federais devem caminhar para o que chamou de “Ensino 4.0”, fazendo relação à 4ª Revolução Industrial. Nunes afirma que é preciso não só ter familiaridade com as novas tecnologias de controle biológico e de produção (como inteligência artificial, drones, sistemas automatizados e implementação de biotecnologia), mas também os próprios institutos capazes de produzir e desenvolver essas tecnologias, através de práticas de extensão e da interdisciplinaridade entre a rede.
Após a palavra dos membros da mesa, houve uma abertura para perguntas, em que se adicionou ao debate os tópicos das disparidades territoriais de oferta de ensino entre as regiões do Brasil, dos limites éticos e ecológicos da aplicação de tais novas tecnologias e da importância da formação integralizada e crítico-reflexiva dos novos estudantes.
Assista aqui na TV IFB como foram esses diálogos da tarde do 2ª dia do II Seminário Forcampo.
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