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Docentes de História do IFB lançam carta aberta

Criado: Sexta, 03 de Mai de 2024, 15h19 | Publicado: Sexta, 03 de Mai de 2024, 15h19 | Última atualização em Terça, 21 de Mai de 2024, 09h43 | Acessos: 622

Os docentes de História do Instituto Federal de Brasília participaram de reunião com a Reitoria do IFB, realizada no dia 30 de abril de 2024, para iniciar um diálogo aberto sobre uma possível oferta de um curso de Licenciatura em História no futuro Campus Sol Nascente, anunciado no âmbito da expansão dos 100 novos campi da rede federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica (EPCT).

A reitora, Veruska Machado, e os assessores de gabinete, Rodrigo Alfani e Adilson César de Araújo, receberam os docentes, demonstraram satisfação com os argumentos apresentados e apontaram a importância das audiências públicas e dos diálogos com a comunidade do Sol Nascente. Nessa oportunidade, os/as professores(as) de História do IFB colocaram-se à disposição da Reitoria para contribuir com o processo de diálogo com a comunidade, reforçando o intuito do IFB de se fazer presente no território antes mesmo da conclusão das edificações, com atividades e projetos. 

Na oportunidade, foi reforçada a importância do ensino de história na educação básica e na educação profissional, lembrando que História é uma das poucas licenciaturas que o IFB ainda não possui em seus campi e que o único curso público e gratuito disponível atualmente no Distrito Federal é o da UnB (na Asa Norte), muito distante das áreas mais periféricas do DF. Abaixo a carta na íntegra:

Carta aberta das/os docentes de História do IFB à Reitoria do IFB e à comunidade do Distrito Federal (DF) 

As/os docentes de História do IFB, que subscrevem esta carta aberta à Reitoria do IFB e à comunidade do DF, desejam iniciar um diálogo público sobre a importância da criação do curso de Licenciatura em História em um dos dois novos campi do IFB, sobretudo no Campus Sol Nascente. 

O propósito dos Institutos Federais de garantir, entre seus cursos, um espaço para a formação docente (inicial e continuada), por meio de licenciaturas e cursos de pós-graduação lato e stricto sensu, tem proporcionado uma importante contribuição para a educação pública brasileira em toda a rede federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (EPCT), valendo-se de sua grande capilaridade e alcançando localidades com pouca oferta de cursos de formação docente (inicial e continuada). 

Nesse intento, e não muito distante de nós, existem experiências exitosas no que toca à oferta do curso de Licenciatura em História. O Instituto Federal de Goiás (IFG), Campus Goiânia, por exemplo, que por 10 anos foi a única Licenciatura em História da rede de Institutos Federais,  ao aproximar as teorias ofertadas no curso da realidade das salas de aula, vem instigando os estudantes a desenvolverem consciência crítica, política e ética para serem transformadores sociais, propondo, portanto, questões fundamentais da relação entre a História (vivida, pensada, ensinada e pesquisada) e o contexto mais amplo da experiência em sociedade. Desde então, outras Licenciaturas em História surgiram por todo o Brasil, como no IFPA (Campus Belém), no IFF (Campus Macaé), no IFSULMG (Campus Inconfidentes) e no CPII (Campus Realengo).  

Neste ano de 2024, em que se celebraremos os 16 anos dos Institutos Federais e 115 anos da rede federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (EPCT), reiteramos a importância da formação docente no seio de nossa Instituição. Os Institutos Federais são instituições de excelência, novas e inovadoras. Oferecem uma educação humana integral a seus estudantes, consolidam um marco na inclusão, ampliação e interiorização da educação pública e de qualidade e, além de comemorar, faz-se necessário interpretar as experiências, confrontar-se com a realidade em que estas mesmas experiências ocorrem, refletir e, assim, orientar-se para a construção de realidades mais adequadas e propositivas.

Mais especificamente no Distrito Federal, o IFB oferta atualmente várias licenciaturas em diferentes áreas e cursos de pós-graduação na área de ensino em todo o Distrito Federal, com seus 10 campi, sendo 9 deles fora do plano piloto e em áreas periféricas do DF, cumprindo um importante papel de ampliação da oferta de educação pública para todos os moradores do DF. 

Cientes de que a escolha dos cursos ofertados se dá de forma democrática e participativa, por meio de um processo de audiências públicas e diálogos da instituição com as comunidades e territórios do DF, nós desejamos defender, de forma pública e democrática, a importância de uma Licenciatura em História no IFB, elencando os seguintes aspectos:

  • O ensino de História em todos os níveis é um dos pilares para uma formação emancipatória e integral dos cidadãos, seja na educação básica ou na educação profissional, especialmente por se pautar no respeito à diversidade, à sustentabilidade, na inclusão e no respeito aos Direitos Humanos.
  • Fortalecer as licenciaturas em História, dentro e fora da rede federal de EPCT, é parte importante do processo de resistência aos retrocessos do Novo Ensino Médio, ao tentar reduzir a formação geral básica.
  • Fortalecer as licenciaturas em História na rede federal de EPCT é parte importante do processo de defesa do Ensino Técnico Integrado (EMI) e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede federal de EPCT como modelo exitoso de uma educação pública, gratuita e de qualidade com formação profissional, integral e emancipatória.
  • Ofertar a Licenciatura em História no IFB Campus Sol Nascente irá representar uma oportunidade de formação pública em História que, atualmente, está concentrada no Plano Piloto, exigindo um deslocamento de mais de 30 km para os estudantes do Sol Nascente e das demais regiões periféricas do DF 
  • Além da atuação fundamental em sala de aula, a Licenciatura em História também permite que os egressos atuem como historiadores em diversos órgãos e instituições, como preconiza a recente Lei 14.038/20, que regulamenta a profissão de historiador no Brasil. Ou seja, além de atuar como professor no ensino básico (fundamental e médio), o/a historiador/a realiza pesquisas, produz e avalia materiais didáticos relacionados ao campo da história, investiga temas em arquivos e institutos de pesquisa. O/A profissional também é capacitado para prestar consultorias na área da Cultura e Política, realizando estudos e promovendo debates sociais. 
  • A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) e a seção ANPUH-DF têm atuado em defesa da Lei 14.038/20, dialogando com diversos órgãos da administração pública federal sediados em Brasília para a abertura de vagas em concurso público, cargos e funções para as/os profissionais em História, valorizando a preservação da memória em todos os órgãos do Estado brasileiro, o que certamente abrirá espaços de atuação profissional para os egressos de curso de História oferecido pelo IFB no DF.
  • Nossa instituição é pautada pela articulação do ensino com a pesquisa e a extensão, o que também tem o potencial de trazer inúmeros benefícios para a comunidade do Sol Nascente por meio de ações e projetos de extensão e pesquisa em História a partir de territórios periféricos, em estreito diálogo com os movimentos sociais e culturais, valorizando as culturas afro-brasileiras, indígenas e as lutas por direitos.
  • A presença da Licenciatura em História no âmbito do IFB tem um importante impacto ao reforçar os saberes da disciplina História dentro da instituição, contribuindo para tornar cada vez mais completo e diversificado o catálogo de cursos voltados à formação docente (inicial e continuada) ofertada pelo IFB à comunidade do DF.
  • Em relação ao currículo da Licenciatura em História no IFB, as/os docentes do quadro efetivo do IFB defendem a criação de um curso marcado pelo diálogo com a comunidade local e valendo-se das mais recentes discussões no âmbito das pesquisas em História, sobretudo em relação à valorização e protagonismo da culturas afro-brasileiras, as histórias dos povos indígenas e uma história do Distrito Federal não centrada no Plano Piloto.
  • Segundo o Mapa das Desigualdades, produzido pelo Instituto de Estudos Socioecônomicos (INESC), com apoio da Oxfam Brasil, a partir da última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (IBGE/2021), o Distrito Federal é um território negro, com 57,4% de população que assim se autodeclara. Vivemos uma desigualdade que é também territorial. Podemos observar as diferenças existentes entre regiões como o Lago Sul e o Sol Nascente (a maior periferia do Brasil, com a forte presença dessa população afrodescendente).
  • O mapa da desigualdade demonstra o racismo institucional que existe em nossas instituições, muitas vezes fruto de um projeto político que agudiza essas diferenças e aprofunda as desigualdades afastando negros e indígenas dos espaços de poder e decisões políticas, como a comunidade do Sol Nascente, desvalorizando suas Histórias.
  • Entendemos que a desigualdade sociorracial e étnica existente em nossa Instituição e, como os dados revelam, no Distrito Federal, é uma produção do Estado e das elites como um projeto de poder que exclui historicamente negros e indígenas, posto em prática desde a criação de Brasília como capital federal, ignorando pessoas que também se jogaram na empreitada da construção de um mundo melhor, pessoas e suas culturas que aqui vivem.
  • Nesta conjuntura social e política, que agrava os prejuízos já acumulados pela população negra ao longo da história, sabemos que as maiores consequências recaem sobre estes mesmos indivíduos, presentes nas localidades periféricas do Distrito Federal, como na comunidade do Sol Nascente.
  • Nesse sentido, queremos promover um diálogo propositivo que expresse compromisso com um IFB mais justo e diverso, que prime pelavalorização da autoestima dessa população, em termos históricos, epistêmicos e de representatividade, inclusivo em vias de fato.
  • Por meio da proposta de uma Licenciatura em História nocampus do Sol Nascente, propomos, de maneira indissociada, a oferta de um curso que pode ser pensado e debatido a partir das experiências locais, do trabalho com fontes históricas em sala de aula, do diálogo com autores/as que visem transformar realidades com base no desenvolvimento de uma consciência crítica e histórica e, principalmente, dos princípios de uma formação humana e integral. 

Assim, reforçamos nossa disposição em continuar este diálogo com a comunidade e contribuir com a construção de um curso de Licenciatura em História no IFB, fortalecendo a educação pública, gratuita e de qualidade já ofertada pelo IFB e o processo de valorização da História como um dos pilares fundamentais para a construção de uma sociedade democrática. 

Assinam esta carta as/os docentes de História do IFB

  1. Dayane Augusta Santos da Silva (docente de História, IFB Campus Brasília, diretora-adjunta da Anpuh-DF)
  2. Thiago de Faria e Silva (docente de História, IFB Campus Recanto das Emas, diretor da Anpuh-Brasil e coordenador do Fórum dos Docentes de História da rede federal de EPCT – FORDHIFs
  3. Guilherme Oliveira Lemos (docente de História, IFB Campus Planaltina)
  4. Luiz Fernando Rodrigues Lopes (docente de História, IFB Campus Estrutural)
  5. Renata Jesus da Costa Ehrl (docente de História, IFB Campus Estrutural)
  6. Dario Andrés da Silva Pouso (docente de História, IFB Campus São Sebastião)
  7. Luiz Guilherme Burlamaqui (docente de História, IFB Campus Riacho Fundo)
  8. Thiago Borges (docente de História, IFB Campus Ceilândia)
  9. Giulle do Nascimento e Silva (docente de História, IFB Campus Brasília)
  10. Maria Helenice Barroso (docente de História, IFB Campus Recanto das Emas)
  11. José Oliver Faustino Barreira (docente de História, IFB Campus Taguatinga)

Apoiadores

  1. Associação Nacional de História (Anpuh-Brasil)
  2. Associação Nacional de História – Seção DF (Anpuh-DF)
  3. Tiago Santos Almeida, professor do Departamento de História da UnB / Coordenador do Curso História Licenciatura Noturno da UnB
  4.  Deputado Distrital Fábio Felix Silveira
  5.  Deputado Distrital Max Maciel 
  6. Deputada distrital Dayse Amarilio
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