19 de abril e todos os dias: A presença Indígena que resiste e ensina

Em um tempo em que o concreto tenta silenciar as raízes, ainda ecoam vozes que sabem conversar com o vento, ler o céu e escutar a terra. São vozes que carregam séculos de sabedoria, luta e memória. Vozes indígenas, que não pertencem ao passado, mas ao presente com a força de quem nunca deixou de resistir.
A palavra “indígena” significa “originário”, aquele que estava aqui antes dos outros. Mais que um termo, é pertencimento à terra, à história e à diversidade dos povos que vivem neste território desde antes do país se chamar Brasil. Hoje, eles estão nas cidades, nas universidades, nos laboratórios, nas salas de aula. Estão produzindo conhecimento, ocupando espaços e construindo caminhos dentro da educação.
No Instituto Federal de Brasília (IFB), o professor Diêgo da Silva Oliveira, da etnia Fulni-ô, representa esse movimento. Ex-aluno do IFB, hoje ele é o único professor indígena da instituição, realidade que carrega tanto orgulho quanto responsabilidade. “Tenho orgulho de levar minha cultura e minhas raízes para a sala de aula, mas é impossível ignorar a solidão dessa representatividade. Precisamos de mais presença indígena nesses espaços.”
Para ele, a educação é uma das chaves para romper com um modelo de ensino que por séculos ignorou ou tentou apagar os saberes indígenas. “Por muito tempo, nossas formas de ver o mundo foram desconsideradas. Hoje, cada vez que um indígena entra numa escola ou universidade, essa lógica é desafiada.”
NEABI: apoio, acolhimento e resistência
Atualmente, o IFB conta com 49 estudantes indígenas, sendo 13 no campus Samambaia e, para apoiar a permanência deles, a instituição conta com o NEABI (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas). O núcleo promove rodas de conversa, escutas e ações de fortalecimento identitário.
Criado oficialmente em 2023, o NEABI é fruto de um trabalho que já vinha sendo feito há anos nos campi. “Os núcleos estão inseridos num processo histórico de ações, de combate ao racismo e de práticas antirracistas. A institucionalização recente é um marco importante, mas vem carregada de desafios e responsabilidades”, explica Nilzélia de Oliveira, coordenadora de Políticas Inclusivas do IFB.
Segundo ela, o maior deles ainda é garantir a permanência com dignidade: “Muitos alunos vêm de longe, enfrentam dificuldades com alimentação, transporte e preconceito. Nosso papel no NEABI é lutar para que esses estudantes sejam vistos, ouvidos e respeitados.”
A coordenadora também ressalta a importância de entender a diversidade dos povos indígenas além dos estereótipos. “Não existe o índio. Existem os povos indígenas. É preciso conhecer o povo Fulni-ô, o povo Yanomami, o povo Guajajara, o povo Kayapó, e tantos outros. Isso é o que precisamos fortalecer no cotidiano da educação.”
Ela lembra que abril, considerado o “abril indígena”, é um mês simbólico de luta, memória e visibilidade, mas a pauta não pode se restringir a uma data. “O desafio é fazer com que essa discussão esteja presente em todas as instâncias da instituição. Que não fique restrita apenas ao núcleo, mas que servidores, professores e estudantes se apropriem dessas temáticas e integrem essas lutas.”
Para além de uma data
O Dia dos Povos Indígenas, celebrado em 19 de abril, é um marco simbólico dessa luta. Mas, como lembra o professor Diêgo, a resistência é diária: “Cada indígena que entra numa instituição como o IFB abre caminho para muitos outros. Mas a luta continua todos os dias, dentro e fora da sala de aula.”
E é justamente nesse encontro entre saberes que a educação se transforma — não como um caminho de mão única, mas como espaço de escuta e troca. Como afirma Ailton Krenak: “A escola precisa ser um lugar onde as diferentes formas de ver o mundo sejam respeitadas como legítimas.”
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