Uma nova forma de enxergar o mundo
A cada ano que passa, os programas e sistemas operacionais, conhecidos como Fonte Aberta, vêm fazendo frente àqueles que têm de ser pagos pelos usuários. A grande diferença desses sistemas é que os primeiros, além de gratuitos, permitem que os utilizadores possam personalizar ou modificar o código como eles desejam. Na prática, isso significa que todos que tiverem interesse podem ajudar a melhorar o sistema, ou seja, milhares de cabeças certamente vão pensar melhor do que algumas.
A grande vantagem nesses sistemas é que, a partir da sua difusão, começaram a ser trabalhadas demandas que até então não eram desenvolvidas pelos softwares comerciais, como o acesso a pessoas com deficiência visual. O Linux, sistema operacional com fonte aberta mais conhecido e difundido entre usuários domésticos, por exemplo, possui implementações que visam à acessibilidade dos cegos em geral, havendo projetos, comunidades interessadas em melhorar o acesso dessas pessoas e desenvolvimento de novos recursos de acessibilidade.
Para César Achkar Magalhães, presidente da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais (ABDV), o Linux traz, para o usuário deficiente visual, diversas vantagens de acesso. “Já existe um grande número de deficientes visuais que estão migrando para o Linux por ser um software gratuito, livre e que dá mais autonomia do que o Windows, que além de ser pago, a gente precisa sempre de alguém que enxerga para formatar o computador e dar manutenção. Já o Linux nos dá essa possibilidade de poder formatar a própria máquina sem precisar de ajuda”, analisa César.
Apesar do aumento do número de usuários do Linux com deficiência visual, os cursos especificamente para esse público ainda não são muito comuns. No primeiro semestre deste ano, o Campus São Sebastião do Instituto Federal de Brasília (IFB) ofertou um curso de Linux Básico para deficientes visuais. O curso surgiu a partir da demanda da ABDV e as aulas aconteceram na sede da associação.
O curso
O curso foi ofertado na modalidade de Formação Inicial e Continuada (FIC) com carga horária de 40h e foi ministrado pela professora de Informática do Campus São Sebastião, Vanice Cunha. As aulas aconteciam com o auxílio de um software especial, conhecido como Orca, um programa gratuito que roda no Linux e funciona como leitor e ampliador de telas.
“Foi uma experiência muito nova. Eu achei que fosse muito diferente, mas a grande surpresa foi esta: é tudo muito igual. Apesar de não possuir a visão perfeita, os alunos tinham os outros sentidos muito apurados e isso facilita muito o aprendizado deles”, avalia Vanice, contando que esta foi sua primeira experiência com alunos deficientes visuais.
A professora afirma que a experiência a ajudou inclusive profissionalmente, como docente. “Após esse curso, eu passei a observar melhor se o aluno está aprendendo ou não, quais as dificuldades que ele apresenta para, em cima disso, trabalhar da melhor forma possível e melhorar o aprendizado”.
E foi a própria professora que entregou, durante o Fórum Distrital de Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva, que aconteceu no mês passado, o certificado de conclusão ao César, um dos alunos do curso. O presidente da ABDV representou os colegas na solenidade. “Essa parceria mostra que o IFB tem buscado atender à demanda da própria sociedade, e não impondo uma política, e isso é muito legal e elogiável”, opina César. “Depois do curso, todos os meus colegas migraram de sistema operacional. Alguns até excluíram o Windows do computador e só usam Linux. Para mim é a prova de que o pessoal aprendeu de verdade”, finaliza.
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