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“Somos um povo diverso e não queremos que nos deem voz somente no dia 19 de abril”

Criado: Terça, 19 de Abril de 2022, 07h54 | Publicado: Terça, 19 de Abril de 2022, 07h54 | Última atualização em Terça, 19 de Abril de 2022, 13h58 | Acessos: 901

Há um ano, ainda em Ensino Remoto, Siana Guajajara ingressava em Licenciatura em Letras-Português no IFB Campus São Sebastião. Como toda caloura, ela carregava em sua mochila sonhos e muito esforço, mas trazia também o orgulho de ser a primeira integrante de toda a família a ingressar em um curso superior e a realização por ocupar novos espaços.

“Quando entrei no IFB tive uma alegria muito grande, pois sou uma indígena com deficiência e, ali, era mais um lugar para eu ocupar”, conta.

Siana tem 27 anos e paralisia cerebral. Ela é da Terra Canabrava, localizada no município do Jenipapo dos Vieiras no estado do Maranhão. “Viemos da Aldeia Maria Joana, onde minha mãe era cacique. Cresci vendo minha mãe na luta”, conta.

E esse sentimento de luta aflorou em Siana, justamente após perder a mãe.   

“Se eu sempre tiver o mesmo raciocínio, a mesma forma de pensar, muitos indígenas vão continuar morrendo assim como minha mãe morreu. Quem vive na base passa por muito sufoco, com acesso precário à saúde e à educação. As escolas não têm carteiras, são praticamente sem teto para proteger das chuvas, e os professores acabam tirando dinheiro do próprio bolso para dar aula”, conta.

Há quatro anos ela participa ativamente da Marcha do Acampamento Terra Livre. Siana é indígena de cabelo cacheado e com deficiência, e o preconceito vem, também, pelo estereótipo do indígena genérico com cabelo liso, tanga e uma pena na cabeça, criado e ainda inserido na sociedade até os dias atuais.

“Já ouvi e continuo ouvindo muito ‘ah, mas você não tem cara de índio’. E eu pergunto: ‘e qual é a cara de índio? ’”, questiona a estudante.

De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil existem 305 etnias e 274 línguas indígenas.

“Não dá para colocar todo mundo em uma mesma caixinha como muita gente acha. Somos um povo diverso e não queremos que nos deem voz somente no dia 19 de abril. Temos que ser ouvidos nos outros 364 dias também. Que o nosso maracá, o nosso cocar, o nosso urucum e o nosso jenipapo sejam conhecidos e reconhecidos neste país”, destaca.

 

Futuro

Atualmente, o Instituto Federal de Brasília conta com 83 estudantes matriculados autodeclarados indígenas, segundo dados do Sistema de Gestão Acadêmica (SGA) do IFB. Desde que o sistema foi implantado, no ano de 2015, a instituição formou 62 estudantes de origem indígena.

Siana segue nessa caminhada. Atualmente ela está iniciando o terceiro semestre do curso. Uma das motivações de ter optado por Letras é auxiliar no projeto que carrega há algum tempo: poder publicar um livro contando a sua própria história.

Além disso, a estudante planeja, após a formatura, especializar-se em Educação Inclusiva e seguir dando visibilidade às pessoas com deficiência por meio da Educação, para impactar a vida de outras pessoas, assim como um dia a dela foi ressignificada.

“Minha mãe estudou apenas até a segunda série, mas ela sempre foi muito firme com a gente com relação aos estudos. E foi graças a ela e à educação que estou hoje em um curso superior e posso defender e lutar pelo que eu acredito”, finaliza.

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